"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
(Dalai Lama)


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O tempo fechou... e agora?

A psicoterapeuta paulista Sandra Taiar nos ajuda a compreender o que acontece conosco em momentos de imensa dor e como sobreviver às tempestades que nos pegam de surpresa no meio do caminho.


A vida muda rápido, a vida muda num instante, você se senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”, escreveu Jane Didion, em seu livro O Ano do Pensamento Mágico (ed. Difel). A morte repentina do marido, que sofreu um enfarte na mesa de jantar, transformou radicalmente a trajetória dessa jornalista americana.

De uma forma ou de outra, todas nós já experimentamos dias que amanhecem como qualquer um e dão uma guinada, abalando nossas estruturas. A psicóloga paulista Sandra Taiar interpreta o modo como respondemos a tais surpresas e mostra como é possível adquirir mais equilíbrio apesar da intensidade das circunstâncias. Psicoterapeuta há 25 anos, ela pratica e pesquisa a metodologia formativa do americano Stanley Keleman, criador da terapia somática formativa, que leva em consideração, entre outras coisas, a influência do corpo, da mente, da emoção e da sexualidade na nossa maneira de pensar e agir. Nessa entrevista, Sandra Taiar nos mostra passo a passo o que acontece conosco depois de um grande choque.

(Nota: Extraí um pequeno trecho da entrevista, o que achei importante destacar)

(...)
BF - O que acontece quando uma pessoa se vê diante de algo que causa um choque emocional?
ST -
A resposta depende da maturidade, do quanto se consegue lidar com a situação ou ser machucado por ela. Ao mesmo tempo, um choque sempre dispara o mecanismo do susto, uma forma de proteção automática diante de situações de emergência, desenvolvida pelo ser humano ao longo da evolução. Diante do choque, de uma dor excessiva, temos três alternativas de atitudes. A primeira seria partir para um enfrentamento e ataque – endurecemos todo o corpo e bombeamos sangue para a parte superior, preparando-nos para lutar. Na segunda, a pessoa não se decide entre o ataque e a vontade de fugir, fica indecisa, sem ação ou tem atitudes conflitantes. Uma terceira atitude é o colapso total (desmaio) ou a fuga, assumindo que somos incapazes de enfrentar a situação. Essas respostas a momentos emergenciais são resultantes do nosso processo evolutivo – cada um de nós tem uma maneira quase padronizada de reagir: há os enfrentadores, os que ficam meio paralisados entre fugir ou enfrentar e há aqueles que preferencialmente decidem não enfrentar e fugir.

BF - A reação diante da mudança repentina depende muito do que a pessoa já vivenciou?
ST -
Sim. Todos nós crescemos enfrentando desafios e ameaças. Um acontecimento que é vivido como assimilável por alguém pode ser pesado demais para outra pessoa. E a intensidade dessas agressões depende do momento em que ocorreram em nossa vida, de quantas vezes aconteceram, de onde partiram e de sua duração e gravidade. A reação tem a ver ainda com o tipo de apoio que se recebeu ou não. A ausência temporária dos pais, por exemplo, pode ser vivida como agressão para uma criança pequena e apenas como um desafio para uma criança maior. Uma crise financeira pode ser um estímulo a mudar, mas, se for muito intensa, também pode implicar perdas e desagregação familiar. Em geral, a tendência é repetir um mesmo tipo de reação diante dos choques. Se a repetição for mecânica e automática, porém, é sinal de que temos poucos recursos para encontrar saídas para desafios diferentes.

BF - As pessoas que nos servem de referência também influem no jeito como reagimos?
ST -
Sim. A forma de reação das pessoas que representam referências importantes é que nos ajuda a construir respostas às crises. Se tivermos pessoas estruturadas na família, por exemplo, podemos nos fortalecer diante do imprevisto. Da mesma maneira, se já conseguimos superar com relativa facilidade outras mudanças bruscas no passado, essa capacidade também nos ajuda a vencer novos traumas. Quanto mais positivas forem as experiências anteriores e as referências de pessoas próximas diante de uma dor inesperada, mais fácil será a reação e a recuperação.

BF - Depois de um choque inicial, então, o que pode ocorrer?
ST -
A resposta imediata é a investigação e o enfrentamento. São momentos em que escolhemos entre avançar ou recuar, enfrentar ou fugir, lutar ou ceder. Se o choque ou a agressão prossegue, podemos ficar excessivamente rígidos, buscando manter a integridade. Se a ameaça continuar, vem a dúvida: enfrentar ou voltar e fugir? O conflito, frequentemente, nos congela na posição de dúvida. Às vezes, a resposta é desistir de lutar, inclusive desmaiar, para diminuir a pressão interna. Essas formas de reação são emocionais e corporais e geralmente devem persistir apenas sob o impacto da emergência. Se elas não são superadas, podem se tornar comportamentos com efeito nefasto, limitando nossa capacidade de responder a outras crises.
(...)


Entrevista completa: BONS FLUIDOS