MILHA
NOTURNA
Breve
reflexão sobre o tempo e sua pressa
Gosto de
fazer caminhadas. Costumo separar uma ou duas noites por semana para esta
prática, utilizando as passadas para um tempo de oração, reflexão, fomento de
projetos e organização do dia que vem.
Numa dessas “jornadas”
pensava justamente sobre o ritmo frenético dos dias, que nos faz afundar num
emaranhado de compromissos, afazeres, pressas e atrasos. Como é comum dizermos
e ouvirmos:
- Não tenho
tempo! Não dá! Impossível!
Por vezes a
demanda é o trabalho, por vezes o lazer, a igreja, por vezes a família. E
despedindo-nos daquilo que realmente nos preenche, os dias vão perdendo a
graça, ganhando tons de cinza e de auto-anulação. Assim escapam, escoam, se
vão.
O engraçado é
que durante uma destas minhas “milhas noturnas”, enquanto pensava nestas
questões, numa rua sossegada da vila, me deparei com uma coruja. Sim, aquele
animal noturno belíssimo que normalmente se vê no campo. Há muito tempo não via
uma coruja, desde a infância na cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Naquele instante paralisei, com medo que meu movimento a afugentasse.
Observei-a. Observou-me também. Ela estava na guia da calçada e, depois de
alguns instantes abriu suas asas e, num salto, ganhou o céu. Por um momento o
seu voo teve a lua cheia ao fundo. Que imagem linda!, pensei.
Confesso que
aquilo me encantou. Vê-la mudou minha rotina e aquele dia deixou de ser um dia
comum, para ser o dia em que revi uma coruja.
Desta
experiência conclui que é importante que tenhamos novas balizas na existência,
a fim de que os dias não sejam iguais. Li certa feita que a criança é tão
empolgada com a vida por que em seu universo é tudo novidade. A noção da
passagem do tempo é diferente para ela: cada dia tem um gosto especial. Deixo aqui a dica. Um pouco de criatividade diante da vida, tornando-a
relevante pela simples percepção de que não estamos presos em nossas
limitações, mas plenos de oportunidades dignas do Evangelho.
Para que nos
livremos desta impressão de que nossa vida está passando depressa, importa
conhecer lugares, trocar a rota, repartir flores, conhecer pessoas,
experimentar um doce, redescobrir o entorno. Importa rever corujas. Importa que
haja novidade.
Todo dia
deve ter a oportunidade de ser único e especial.
Que nas tuas
“milhas” diurnas e noturnas o teu olhar esteja sensível a perceber as novas
direções para as quais o próprio Deus está te apontando.
Olhai as aves do céu!
Por Jonatas
Cavalheiro – Pastor Metodista
Extraído da
Revista Conexão – nº 206 – Março/Abril de 2012