"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
(Dalai Lama)


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Da Calmaria ao Caos



“Nem sempre a vida é jogo com cartas boas.
Às vezes temos de jogar também uma mão ruim.”
Robert Louis Stevenson

Às vezes a vida é assim, uma calmaria. Há caminhadas na jornada da vida que são tão cristalinas como um lago à meia-noite, sem vento. Não há ruído, nem, pressa, nem crises. Existem trechos em nossa música em que o maestro silencia o tambor e somente permite que o canto da flauta seja ouvido. E ela então soa. Sob a magia de sua música, os prazos não são tão críticos. A morte fica distante, as pessoas queridas continuam queridas e estão muito próximas. As nuvens escuras do medo, das dívidas e dos telefonemas raivosos já passaram. E, por um instante, o mundo se torna o lugar do lago tranqüilo.
Está tudo muito calmo, porém há possibilidade de a calmaria virar um caos.
“Dias horríveis”, “Parece que tudo deu errado...”
Não importa o nome que você dê: parece que há dias que não valem a pena serem vividos. Não importa se é uma segunda-feira chuvosa, se você levou um escorregão no banheiro, ou se aconteceu uma tragédia que pode mudar totalmente o curso de sua vida, acabando com todas as esperanças e partindo seu coração. Normalmente surgem três perguntas nessas ocasiões:
- Por quê, Deus, por quê?
- quando, Deus, quando?
- Vou sobreviver, Deus, vou?
E você fica pensando: Por quê? Por que eu? Por que agora? Por que isso? Por quê, Deus, por quê? Se você está fazendo estas perguntas, lembre-se de que não está sozinho. Elas são tão antigas quanto a própria humanidade. Somente suas crenças sobre a vida determinarão o modo como você vai reagir às crises e ao momentâneo sofrimento.
Em si, o sofrimento não é um mal que tenha de ser evitado a todo custo, mas um mestre com o qual podemos aprender muito. O sofrimento nos instrui, dizendo para mudar, parar de fazer uma coisa ou começar a fazer outra, parar de pensar de um jeito e começar a pensar de outro.
Quando nos recusamos a ouvir o sofrimento, ele diminui e tudo quanto nos resta é nos transformar em escapistas. Na verdade, estamos dizendo: “Não vou ouvir. Não vou aprender. Não vou mudar.”
Pessoas abertas que crescem, não têm má vontade com a pedagogia do sofrimento e estão sempre dispostas a mudar. Dão início a respostas e ajustes adequados. Outras, por razões desconhecidas, simplesmente não absorvem as lições do caos – preferem uma existência narcotizada e tranqüilizante, uma calmaria sem ganhos. Estão dispostos a realizar apenas 10% de seu potencial, infelizmente.
Nicolo Paganini foi um violinista muito conhecido e talentoso do século XIX. Seu concerto mais memorável, contudo, foi marcado por “movimentos frenéticos” e não foi por sucesso fácil. O concerto foi executado na Itália por uma orquestra completa, perante uma casa lotada. Aqueles que o ouviram tocar dizem que a técnica de Paganini foi incrível, e sua modulação fantástica. Perto do final do concerto, Paganini estava emocionando a platéia com uma composição muito difícil, quando uma corda de violino arrebentou e ficou pendurada, presa só por uma das pontas. Paganini franziu as sobrancelhas por um instante, balançou a cabeça e continuou a tocar, fazendo um maravilhoso improviso.
De repente, para surpresa de todos, inclusive de Paganini, uma segunda corda arrebentou e, logo a seguir, uma terceira. A apresentação parecia ter se transformado um comédia. Diante de uma platéia boquiaberta, Paganini segurava seu violino Stradivarius com as cordas penduras. Ao invés de abandonar o palco para consertar o instrumento, ele permaneceu firme. Completou calmamente a difícil composição com a única corda restante – uma apresentação que ganhou aplausos, admiração e fama permanente.
Os grandes se recusam a ser vitimados pelas circunstâncias. Ao contrário, usam os eventos traumatizantes como trampolim para uma atitude útil e criativa em relação à vida.
Lembre-se: o melhor que você tem a oferecer pode ser uma apresentação sob circunstâncias difíceis e inusitadas!
O segredo do sucesso deve ser igual a um pato – sereno e tranqüilo na superfície, mas movimentando-se freneticamente por baixo da água.

“Esqueça os tempos de aflição, mas nunca esqueça o que eles lhe ensinaram.”
Herbert Gasser


Texto de Daniel C. Luz
Extraído da revista Qualimetria FAAP – nº 204 – pg. 100 - agosto de 2008.

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