"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
(Dalai Lama)


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Lomografia

Fotografia à moda antiga


O principio da “lomografia” consiste em captar imagens com câmeras analógicas, de baixa tecnologia, chamadas de câmeras lomo.

A lomografia (tanto o nome quanto o conceito) nasceu oficialmente na Áustria em 1991, por iniciativa de dois jovens estudantes que haviam acabado de passar férias em Praga, a capital da República Tcheca. Lá, compraram por US$ 8 uma câmera de segunda mão Lomo LC-A. A Lomo é uma linha de máquinas fotográficas que surgiu na então União Soviética durante os anos 80. Baratas e populares, pretendiam estimular cada cidadão a fotografar seu dia-a-dia sob o socialismo. Mas o baixo custo tinha também um preço: as imagens feitas pela câmera exibem cores inexatas e cenas que não raro aparecem fora de foco. O que os dois estudantes fizeram, ao criar a lomografia (ou "a arte de fotografar com uma Lomo"), foi proclamar que tais imprecisões não são necessariamente um defeito.

Aos defeitos nas fotos obtidas com as Lomos foram associadas certas atitudes condizentes com a qualidade das imagens. As lomografias precisavam ser tão espontâneas e descompromissadas como as lentes de plásticos.

Hoje, uma certa Lomographic Society International (LSI) dá o norte da "filosofia Lomo". As máquinas continuam sendo produzidas na Rússia, e o número de usuários cresce a cada minuto. Em setembro, aconteceu em Londres o 7º Congresso Mundial de Lomografia. Todo ano, uma cidade diferente sedia o evento, que convoca lomógrafos do mundo inteiro a participar enviando suas fotos. A capital inglesa recebeu mais de 100 mil fotografias.

Para um lomógrafo, o que menos importa é a qualidade técnica da imagem gerada pela câmera. O mais importante é registrar o mundo ao redor, os pequenos acontecimentos, os objetos do cotidiano - e esperar pela surpresa que a fotografia revelada mostrará. Um real lomógrafo, no entanto, não concede a si mesmo a plena liberdade no ato de fotografar. Existem dez regras disseminadas pela "tribo" que separam uma autêntica lomografia da foto "errada":
1 - Nunca deixe de levar sua Lomo para qualquer lugar.
2 - Use a câmera a qualquer hora - de dia ou à noite.
3 - Lomografia não é exceção em sua vida. É parte dela.
4 - Faça as fotos sem imaginar as conseqüências.
5 - Aproxime-se dos objetos o mais perto possível.
6 - Não pense enquanto fotografa.
7 - Seja rápido.
8 - Você não precisa saber de antemão o que foi capturado pelo filme.
9 - Nem depois você precisa saber.
10 - Não se importe com as regras.

Em tempos de fotografia digital, câmeras que se tornam obsoletas em seis meses e preocupação com a máxima qualidade da imagem, o movimento lomgráfico é um sopro de ar fresco dentro da obsessão técnico-capitalista que a fotografia tem se tornado. Há inúmeros grupos e milhares de fotos “lomos” no Flickr e em outros sites espalhados pela web. Apesar do declínio do filme, para esses fotógrafos a mídia continua viva. Aliás, se o filme for vencido melhor ainda, pois produz mais distorções na imagem captada. Outro expediente freqüente é o processo cruzado, em que filmes de slide são revelados em processo C-41, o normal dos laboratórios, o que altera as cores.

O grande lance da lomografia é ser uma linguagem definida e com consistência entre a forma, o conteúdo e a abordagem. A informalidade, a espontaneidade e o descompromisso estão presentes nas câmeras de brinquedo e nos filmes vencidos, na escolha quase aleatória do conteúdo e na abordagem do fotografar por fotografar. Hoje, com o sistema digital, tudo poderia ser fotografado, mas é difícil que as pessoas se libertem do que é, em tese, fotografável. A lomografia consegue, com desprendimento, olhar e reconstruir o cotidiano sem a pretensão de reproduzir uma realidade.

Nenhuma fotografia é uma cópia, é sempre uma ilusão, uma construção com características particulares. No entanto, a fotografia convencional busca se parecer com uma cópia. A maior parte dos avanços tecnológicos e técnicas fotográficas é voltada a criar uma ilusão o mais realista possível. A lomografia não parte desse pressuposto, uma vez que entende que qualquer cópia é naturalmente artificial. A partir dessa aceitação, ela se vê livre para aproveitar as características de um sistema que só é “defeituoso” quando se parte do paradigma da cópia.

É por isso que não faz sentido, por exemplo, dar a uma fotografia digital, através de um programa de edição de imagens, uma cara de lomografia. Seria o mesmo que usar um filtro que dê a uma foto um aspecto de pintura. Seria artificial, pois a pintura se constitui no método, e não apenas no aspecto final. Da mesma forma, para fazer lomografia, é preciso adotar a sua proposta desde o início, e não apenas tentar copiar um aspecto do resultado. Felizmente, para quem tem disposição, a coisa é muito fácil. As câmeras são baratíssimas (além das Lomos, há as Holgas e Dianas), os filmes podem estar vencidos e fotografa-se aquilo que bem entender. O difícil e saber o que fazer com tanta liberdade nas mãos.

Rock e a fotografia

Convertidos em lomógrafos, os roqueiros do White Stripes serviram de inspiração e cederam seus nomes para novos modelos de câmeras Lomo, pintados com as cores características da dupla, o vermelho e o preto.

Atualmente, existem até programas de computador para recriar o "efeito Lomo" em fotos digitais. Mas isso não é mais lomografia. Os roqueiros do White Stripes considerariam apenas uma trapaça.

Nenhum comentário: