"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
(Dalai Lama)


quarta-feira, 14 de maio de 2008

A Terapia do Filósofo

O filósofo suíço Alain de Botton contou que, quando está se sentindo meio depressivo, desanimado ou angustiado, costuma ir até o aeroporto de Heathrow (Londres). Não pra viajar, mas pra ver os aviões decolando e aterrissando e as pessoas chegando ou partindo. Segundo o filósofo, essa movimentação lembra a ele que a vida é feita de mudanças, de deslocamentos, de novas possibilidades. Existem sempre outros lugares, outros destinos, novas histórias pra se viver, novos cenários pra se recomeçar. Nem sempre no sentido literal, geográfico.

O que o ir-e-vir de aviões e passageiros ilustra é a possibilidade da mudança. Muitas vezes nos acomodamos, estacionamos na tristeza, puxamos o freio de mão na infelicidade. A acomodação no sofrimento é uma morte lenta, homeopática. Às vezes é o emprego que detestamos, ou a cidade onde moramos, mas que nunca sentimos como nossa cidade. Outras vezes é o casamento que já acabou ou o namoro que nada acrescenta. Não importa a razão, o fato é que costumamos aceitar como se fossem inevitáveis coisas que dá perfeitamente pra mudar. Temos medo do fim e da ruptura, medo do novo e do desconhecido. Ou, pior ainda, não acreditamos que exista a possibilidade do novo.

Ficamos engessados nos velhos padrões, nas velhas crenças, nos velhos estilos de vida que não nos realizam e aí paramos de sonhar.

Passar uma hora num aeroporto qualquer pode sacudir nossa inércia, corrigir nossa miopia, lembrar que a vida existe em movimento e, a cada movimento, pode mudar e nos mudar. A tristeza profunda de hoje pode não existir amanhã. O amor que hoje dói tanto pode parar de doer. A solidão pode deixar de existir. As perdas podem cicatrizar. Mas, pra isso, temos que deixar a vida decolar. Temos que estar com o passaporte em dia, prontos pra embarcar.

Experimente a terapia do filósofo: passe algumas horas no aeroporto mais próximo. Tome um cafezinho, compre uma revista, ande pelos corredores sem pressa, contemple sem pudor quem está embarcando ou chegando, imagine quantas histórias aquelas pessoas carregam, veja as malas que foram e estão de volta, a bagagem que se prepara pra ir sem saber quando vai voltar. E não deixe de observar os aviões. Quem diz que é brega ficar olhando avião subir e descer não sabe de nada. A cada decolagem, a gente se lembra de que há um mundo vastíssimo nos esperando. A cada pouso, ficamos confortados de saber que, se for preciso, dá pra voltar. Em matéria de terapia, não consigo pensar em nada mais breve e mais barato. E, se dá certo com o filósofo, por que não daria com a gente? Tente, experimente e boa viagem!

Extraído de: NÓS MULHERES

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